MAXIMILIANO – UM PRÍNCIPE AUSTRÍACO EM SOLO FLUMINENSE

 AVENTURA E TRAGÉDIA

    Guilherme Peres

maximiliano

Irmão do imperador Francisco José da Áustria, o arquiduque Maximiliano de Habsburgo era um príncipe admirado na Europa pelo seu caráter nobre e bondoso. Estudioso das ciências naturais interessava-se pela fauna e a flora das Américas, despertando-lhe o desejo de conhecer o Brasil. Durante sua visita, além de outras homenagens, o seu nome foi inscrito no quadro social do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

 RIO DE JANEIRO

No dia 26 de janeiro de 1860 adentrava na baia de Guanabara a corveta “Elisabeth”, conduzindo em seu interior o arquiduque e toda sua comitiva, sendo cumprimentado ainda a bordo pelo senhor ministro dos negócios estrangeiros e o cônsul da Áustria.  

       VISITA A PETRÓPOLIS

No dia 30 pela manhã, balouçando ao sabor das ondas, encontrava-se atracada no cais do Arsenal de Marinha a galeota imperial, gentilmente oferecida ao príncipe para iniciarem uma viagem em direção a Petrópolis, conforme desejo de sua alteza manifestado no dia anterior.

Após a comitiva acomodar-se no interior da galeota acompanhando o príncipe, a bela embarcação deslocou-se pelo interior da baia passando por várias ilhas cobertas de vegetação. Barcos e colônias de pescadores se sucediam até avistarem ao longe a igreja de N. Sra. da Guia de Pacobaíba, sinalizando próximo o porto de Mauá. O barco atracou junto à gare do trem onde já os esperavam uma comissão para dar-lhe as boas vindas, embarcando em seguida na composição com partida prevista para as 7 horas, cuja locomotiva exibia à sua frente, duas bandeirolas simbolizando os impérios do Brasil e da Áustria.    

Em carta dirigida ao conselheiro Paulo Barbosa da Silva, dois dias antes de sua partida para Petrópolis, o ministro de estrangeiros: João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, comunicava o desejo do príncipe Maximiliano de “fazer uma visita a Suas Altezas”, pedindo providências para preparar sua recepção:

“O príncipe embarcará pelas 6 horas da manhã no Arsenal de Marinha na galeota imperial; vou providenciar para que as sete, um trem especial espere na estação do Caminho de Ferro de Mauá”.

Na carta, o ministro também recomenda que o conselheiro ponha à disposição de Sua Alteza “duas carruagens na estação oposta (Raiz da Serra), por quanto a comitiva será de 6 a 7 pessoas” e prepare “aposentos para o príncipe no Hotel Oriental… ou um alojamento no próprio palácio de Petrópolis”, indicando que este oferecimento só poderia ser dirigido à pessoa do príncipe, “bastando que o aposento que lhe for destinado conste de duas peças”.

A chegada da composição ao final da linha férrea situada em Raiz da Serra, com a locomotiva envolta em fumaça, chamou atenção de alguns curiosos que se achavam nas redondezas. Um pouso de tropeiros avarandado próximo à estação, abrigava homens e animais em descanso, demonstrando na calmaria dos terrenos pantanosos, a presença das febres palustres.                    

 A carruagem atrelada aos animais subiu a serra, levando sua alteza e a comitiva, onde “muitas famílias foram esperá-lo na Vila Teresa, acompanhando-os até o hotel”. Em seguida foram convidados para jantarem no palácio em companhia de suas primas SS. AA. as princesas D. Isabel e D. Leopoldina “numa reunião íntima presidida pela condessa de Barral”. A visita a Petrópolis durou apenas dois dias, pois o viajante deveria prosseguir no dia 5 para a Província do Espírito Santo, a fim de encontrar-se com o Imperador.

        

  HISTÓRICO

Nascido em Viena, Áustria, em seis de julho de 1832, Fernando Maximiliano de Habsburgo, era filho de Franz Karl, arquiduque da Áustria, e de Sophie, princesa da Bavieira, Irmão do imperador da Áustria, Francisco José e primo de D. Pedro II, imperador do Brasil.“Depois de uma juventude dedicada a Marinha austríaca, Maximiliano se afastara da vida pública, vivendo em seu castelo italiano de Miramare, em Triestre, com a esposa Carlota”. 

Após ser fundado o império mexicano (1864 -1867), os conservadores daquele país convidaram Maximiliano para assumir a Coroa, e manter um sistema político apoiado pelo imperador francês Napoleão III, que ocupava com centenas de tropas este território, dando-lhe o apoio necessário para assumir o governo. Além da Inglaterra, a Santa Sé e a vaidade transformaram Maximiliano era um monarca, e não seria mais predestinado a viver como o “irmão do imperador da Áustria”.

 Assumindo o trono de um país completamente estranho para ele e mergulhado em intensa crise política, ainda naquele ano Maximiliano entraria em choque com forças conservadoras por ter escolhido um gabinete contrário à causa monarquista, ganhando também a hostilidade dos seguidores de Benito Juarez, ao ordenar em 1865, a execução sumária de seus líderes. Com a retirada das tropas francesas em 1866, Maximiliano assumiu o comando das tropas mexicanas, minadas por ideias revolucionárias que as enfraqueceram.

As forças revolucionárias de Benito Juarez ganhavam cada vez mais terreno em combate com as tropas francesas, até que estas se retiraram, deixando Maximiliano entregue a defesa de “seu” próprio exército.

       FINAL DE UM SONHO

 Dominadas em combate após o cerco em Santiago de Querétaro, o coronel Miguel Lopez chefe da guarnição, entregou sua posição aos republicanos que invadiram a praça de guerra em 15 de maio fazendo centenas de prisioneiros. O imperador retirou-se para o Cerro de las Campanas com alguns de seus generais e se entregaram como prisioneiros. Enquanto aguardavam o julgamento por um conselho de guerra, estiveram presos no convento de La Cruz, dos Capuchinhos. “O general Ramon Mendes simplesmente identificado foi passado imediatamente pelas armas”.

Apesar da interferência de ministros europeus e dos Estados Unidos, creditados junto ao México, as sentenças de morte dos comandantes militarese seu imperador foram confirmadas, no dia 19 de junho de 1867. Até uma carta do escritor francês Victor Hugo com pedido de clemência foi recusada por Juarez. Colocados diante do pelotão de fuzilamento, os generais Miguel Miramón, Thomas Megia e o arquiduque Maximiliano da Áustria tiveram o México como túmulo, apagando naquele país, os últimos vestígios de uma aventura monarquista.

COMENTÁRIO

Vejo seu retrato: a barba ruiva resplandece sobre um colar de medalhas. Ao cavalgar um ginete branco se convencia que nascera para galgar os degraus de um império. Cavalo alado com asas de cera. Alto, jovem, olhos azuis, dedicados ao estudo, dos que amam as coisas do espírito. Com orgulho indomável cultuava a magnanimidade, o censo de justiça, o forte personalismo.

A loucura dominaria o ego,se recusasse empunhar a espada em defesa de um trono, mesmo sendo alheio aos círculos honoríficos da Europa. Desfraldar uma bandeira de vaidades e marchar contra os moinhos de vento.

Naquela manhã após o toque do clarim, foi colocado diante do pelotão de fuzilamento junto com seus comandantes. As balas atravessaram-lhe o peito. Medalhas de sangue… e um corpo tombado na areia próximo a vala comum dos mortais.                       

A partir desses acontecimentos, confinada no castelo de Bouchot, na Bélgica, a arquiduquesa Carlota Amália passaria o resto de sua vida completamente louca, até morrer em 1927.